Painel projetado por Lasar Segall para o primeiro Baile de Carnaval da SPAM (1933)
Formação da Sociedade Pró-Arte Moderna
Dez anos depois da Semana de Arte Moderna de 1922 iniciou o processo de formação da Sociedade Pró-Arte Moderna (SPAM), na cidade de São Paulo. A primeira reunião, realizada em novembro de 1932, na casa do arquiteto Gregori Warchavchik, contou com a presença de figuras ilustres das artes paulistas, entre eles vários participantes da Semana de 22. A reunião tinha como objetivo discutir o formato e o propósito da dita “Sociedade”, a saber: promover a arte através de exposições, conferências, reuniões e festas. Mas foi só um mês depois, em dezembro de 1932, que o grupo foi formalmente estabelecido por nomes como Lasar Segall, Anita Malfatti, John Graz, Victor Brecheret, Mário de Andrade, Tarsila do Amaral, dentre muitos outros artistas e apoiadores.
Um trecho de correspondência entre Mario de Andrade e Lasar Segall, no início de 1931, fornece pistas do que eles vinham discutindo acerca das possibilidades que se abriam para a constituição de um espaço de incentivo à arte moderna. A criação da Sociedade Pró-Arte Moderna (SPAM) é apontada por Mario como uma “velha ideia”:
“(…) uma coisa que vai alegrar você – a quase realização daquela nossa velha idéia -lembra-se? – de um centro de arte moderna juntamente com Dona Olívia Guedes Penteado e com outras algumas senhoras da nossa melhor sociedade, estou tratando de dar a essa idéia uma forma palpável, útil. Creio que faremos, para principiar, uma espécie de club que se chamará “Sala Moderna”, na qual exporemos quadros, estátuas, livros etc e faremos ou
vir musicistas, escritores etc, exclusivamente modernos, nacionais e estrangeiros. A “Sala Moderna” terá um número limitado de sócios e, mantendo um chá (“tea room”) anexo atrairá, com isso, a visita da sociedade -o que será para os artistas de grande utilidade prática….”.
Catálogo da primeira exposição de arte moderna da SPAM
Programação da primeira exposição de arte moderna da SPAM
Composta por categorias variadas de membros, a SPAM reunia seus participantes em três grupos, sendo o primeiro denominado de fundadores, o segundo abrigava músicos e literatos que haviam sido convidados e, por último, os apoiadores da arte em geral. O espaço alugado para ser a sede do grupo foi o quinto andar do Palacete Campinas, localizado na praça da República, número 44. A comissão executiva era responsável por comunicar os associados dos futuros eventos, como podemos observar através dessa carta de divulgação sobre o espaço escolhido para ser a sede. No entanto, a primeira exposição de arte foi realizada em outro espaço, já que a sede ainda não estava pronta para receber os eventos.
Carta enviada aos membros da SPAM sobre a sede que seria inaugurada
As festas da SPAM: começo e fim da Sociedade Pró Arte Moderna
Com intuito de arrecadar fundos para cobrir as despesas dessas exposições e também do aluguel do espaço, os membros da SPAM fizeram grandes festas, divulgadas nos jornais da época, como o Baile de Réveillon, em 1932, e os Bailes de Carnaval (em 1933, “O carnaval na cidade da SPAM” e “Expedição às Matas Virgens da Spamolândia”, em 1934). O projeto do primeiro Baile de Carnaval foi idealizado por Lasar Segall, o figurino foi desenvolvido por John Graz, Esther Bessel e Jenny Segall, a bailarina Chinita Ullman foi a responsável pela coreografia, a direção musical ficou sob responsabilidade de Camargo Guarnieri. Além disso, a festa contou com uma moeda própria e com a circulação de um jornal, “A Vida de SPAM”, produzido por Mario de Andrade, Alcantara Machado e Sergio Millet. A ideia era criar um espaço de experiências compartilhadas, uma espécie de crítica expressionista.
Os jornais da época na cidade de São Paulo sempre noticiavam os eventos da Sociedade Pró Arte Moderna em suas páginas. A Folha da Manhã, na edição de 14 de fevereiro de 1933, divulgou o Baile de Carnaval da SPAM como uma grande festa. Anunciava ainda que meia noite ocorreria, na praça pública da fabulosa cidade fictícia, um cerimonial de recepção “ao Príncipe Carnaval e seu séquito”, onde “os convidados do baile representarão a massa do povo, em fantasias variadas e interessantes”. O séquito era composto pelos membros do grupo, bem como pelos apoiadores e membros da elite paulistana.
A despeito do sucesso das festas realizadas e do cuidado dispendido pelos organizadores, a SPAM não teve vida longa. No transcorrer dos seus dois anos de duração o grupo teve que lidar com tensões internas que geraram conflitos, dividindo os membros em duas alas, segundo o artigo “Lasar Segall e as festas da SPAM” do Professor de Sociologia da USP, Fernando Antonio Pinheiro Filho. No entanto, as festas e exposições serviram para fomentar a arte moderna e seus propósitos, aglutinando diversas personalidades do meio artístico na produção e difusão de ideias que serviram para agitar o ambiente cultural paulistano.
Spamote era a moeda própria que circulava nas festas
Projeto de decoração para o Carnaval na cidade de SPAM, desenhado por Lasar Segall. Acervo Museu Segall.
Programa do Carnaval na cidade de SPAM
Referências
SOCIEDADE Pró-Arte Moderna (São Paulo, SP). In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileiras. São Paulo: Itaú Cultural, 2017. Disponível em: <http://enciclopedia.itaucultural.org.br/grupo435876/sociedade-pro-arte-moderna-sao-paulo-sp>. Acesso em: 14 de Mar. 2017. Verbete da Enciclopédia. ISBN: 978-85-7979-060-7
PINHEIRO FILHO, Fernando Antonio. Lasar Segall e as festas da SPAM. Tempo soc., São Paulo, v. 16, n. 1, p. 209-230, Jun. 2004. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-20702004000100011&lng=en&nrm=iso>. access on 22 Mar. 2017. http://dx.doi.org/10.1590/S0103-20702004000100011.