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Art déco de John Graz filtra brasilidade

Data: 19/04/2016 - Local: 

Folha de São Paulo, 23 de janeiro de 2010.

Ilustrada

Silas Martí (da reportagem em local)

 

Art déco de John Graz filtra brasilidade

Cerca de 180 obras do artista e designer suíço radicado no país estão em mostra que começa hoje em SP

 

Parecem máquinas as onças de John Graz. São felinos sintéticos, abaulados, de aspecto industrial. Índios e bandeirantes também têm cara de saídos de uma linha de montagem, num futurismo com pé nos trópicos.

Suíço radicado no Brasil, Graz liderou uma espécie de antropofagia ao revés. No contrafluxo de Tarsila do Amaral, Vicente do Rego Monteiro e outros modernistas do país que foram tomar lições com Fernand Léger e cubistas, ele digeriu fauna e flora brasileiras partindo de uma base art déco.

Obras de todas as duas fases, dos bichos aos imigrantes nas lavouras de café, estão agora na Caixa Cultural, em São Paulo.

Na terra dos barões cafeeiros, Graz montou um dos primeiros escritórios de decoração do país. Atendia o gosto burguês com tapeçarias, móveis e pinturas de parede que filtravam a brasilidade por olhos europeus.

Ele subverteu o preciosismo acadêmico dos artistas em voga no país no começo do século 20. Operou a síntese das formas e pôs figuras em movimento. “Antes era a onça com todas as pintas”, lembra Sergio Pizoli, curador da mostra. “Mas ele reduz a onça a um movimento, a floresta vira folha gigante.”

Folhas e plantas que lembram as florestas exageradas, de caules grossos e flores hipertrofiadas de Tarsila do Amaral. Mas, antes que ela fizesse o “Abaporu”, homem que come, em tupi, Graz já tinha mastigado as manchas de Léger, o mesmo que ensinou formas protocubistas a Tarsila, numa composição de índios descansando.

Nos outros estudos que fez dos índios, tema que aparece também em sua obra decorativa, tenta retratar figuras em movimento. Simula o ataque durante a caça, a vida na aldeia, mas passa ao largo de qualquer traço acadêmico. Injetava, ao contrário, uma dose de futurismo, formas sincopadas e geométricas, nesses registros.

Tentou atingir outro grau de leveza em sua análise do mundo novo. Desenhou até caravelas chegando e os bandeirantes que avançaram para o interior, assumindo ele também o desejo de se entranhar numa terra desconhecida, cheia de cor.

Não à toa, suas florestas despontam amarelas, vermelhas. Gatos, onças, pássaros e lagartos se arrastam num langor tropical, uma moleza ao mesmo tempo esfuziante, com toda a volúpia das curvas art déco.

Graz, aliás, levou tão a sério esse repertório formal que foi modelo de Brecheret para os homens redondos do Monumento às Bandeiras, o empurra-empurra do Ibirapuera.