John Graz, Sala de Estar da residência de Mario Cunha Bueno, c. 1929.
Essa série de quatro artigos tem como objetivo apresentar projetos de decoração de interiores, uma das muitas faces da obra do artista suíço radicado no Brasil, John Graz. Precursor do design de interiores no país, ele foi responsável por pensar aspectos decorativos das casas de várias personalidades paulistanas. Seu trabalho chama atenção pela qualidade técnica e inovação da combinação entre móveis, afrescos, vitrais e luminárias. No primeiro artigo da série, apresentamos imagens das casas de Caio Prado Júnior e Roberto Simonsen. No segundo artigo nós trouxemos as residências de Leme Fonseca e Célia de Carvalho.
Nesse terceiro artigo nós apresentamos fotografias de dois projetos executados por John Graz e posteriormente registrados, a pedido do artista, pelo fotógrafo italiano que viveu no Brasil, Hugo Zanelli. Trata-se das residências de Mario Cunha Bueno e Alberto Ferrabino. Essas fotografias são registros importantes que garantem acesso à memória dos espaços, já que boa parte das casas em que John Graz trabalhou não existe mais, devido à verticalização da cidade. As imagens utilizadas fazem parte do acervo do Instituto John Graz.
A residência de Mario Cunha Bueno
Membro de uma família de proprietários de terras e produtores de café, Mario Cunha Bueno (1891-1963) exerceu cargos de chefia e liderança em importantes entidades, sendo presidente do Banco Industrial de São Paulo S.A e diretor da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo, bem como presidente da Cia. Agrícola Buenópolis (1930-1936).
Sua residência foi construída na Rua Guadalupe, na virada dos anos 1920. A decoração de vários ambientes ficou sob a responsabilidade de John Graz. No entanto, diferente das casas que mostramos nos outros artigos dessa série, nesse projeto, especificamente, os ambientes que John Graz projetou foram os de convívio social. Se em um primeiro momento os clientes que contrataram o serviço do design suíço queriam que ele construísse ambientes privados, onde os aspectos inovadores ficassem visíveis apenas para os familiares, Mario Cunha Bueno pensou diferente e destinou os ambientes sociais como a Sala de Estar, o Hall, a Varanda e o Jardim, para a criação e sensibilidade de John Graz.
De acordo com a interpretação da pesquisadora Anna Maria Affonso dos Santos em sua dissertação de mestrado, John Graz: o arquiteto de interiores: “Não se sabe quem foi o engenheiro-arquiteto responsável pela obra, porém com certeza houve intercâmbio de ideias entre ele e John Graz durante a construção dessa casa, uma vez os projetos de John Graz se inter-relacionam com os elementos construtivos como portas de ferro, vitrais, pavimentos e escada e, foram colocados em locais específicos, elaborados durante a fase de construção da obra”.
John Graz, Sala de Estar da residência de Mario Cunha Bueno, c. 1929.
“Observando-se as fotos desta residência dá para se fazer uma suposição de como era sua distribuição interna. Em frente a um pequeno jardim que dá para a rua tem-se uma varanda que dá acesso à sala de estar por meio de uma porta de ferro e duas grandes janelas de vidro. Essa sala se divide em dois ambientes, que por sua vez se comunicam com a sala de jantar e com um hall. O hall interliga, por meio de uma escada, as alas sociais do andar inferior à ala íntima do andar superior, onde estão quartos e banheiro. Esse esquema foi típico nas construções residenciais no Brasil até cerca de 1945 e sofria ainda influência das antigas tendências de distinção social em relação aos locais de trabalho e de intimidade”.
John Graz, Sala de Estar da residência de Mario Cunha Bueno, c. 1929.
John Graz, Varanda da residência de Mario Cunha Bueno, c. 1929.
Era comum nesse período a parceria entre engenheiros-arquitetos e profissionais que começavam a introduzir o design de interiores no país. Por exemplo, existem registros na revista Acrópoles, uma das primeiras publicações sobre o assunto, datadas do começo da década de 1930, que apontam o trabalho conjunto de John Graz com requisitados arquitetos do período, como Rino Levi e Giovanni C. Bianchi.
A residência de Alberto Ferrabino
No caso da residência do industrial Alberto Ferrabino, construída em 1931 na rua Estados Unidos, o projeto arquitetônico foi assinado por Rino Levi e a decoração ficou por conta de John Graz. Até então, Rino Levi havia feito somente projetos de casas convencionais para a classe média, sendo a primeira experiência em direção a um projeto mais moderno a residência da família Ferrabino. No entanto, o proprietário, um pouco assustado com os traços retilíneos e racionalistas, quis modificar alguns aspectos da fachada e inseriu elementos decorativos tradicionais, como arcos e balaustrada.
John Graz projetou diversos ambientes da residência, como a Sala de Estar, Sala de Jantar, Sala de Visitas, Sala Íntima, o Hall, e o Dormitório do Casal. Ainda de acordo com Anna Maria Affonso dos Santos: “Ele encontrou soluções inovadoras para cada ambiente tendo sempre a preocupação de criar ambientes sofisticados que não fossem só reconhecidos pelo requinte e pelo uso de materiais e mobiliários diferenciados – móveis geralmente com volumes geométricos – como também pela maneira racional e dinâmica com que o espaço deveria ser organizado”.
John Graz, Hall da residência de Alberto Ferrabino, 1931.
John Graz, Sala de Jantar da residência de Alberto Ferrabino, 1931.
John Graz, Sala Íntima (Boudoir) da residência de Alberto Ferrabino, 1931.
Referências
SANTOS, Anna Maria Affonso dos. John Graz: o arquiteto de interiores. 2008. Dissertação (Mestrado em História e Fundamentos da Arquitetura e do Urbanismo) – Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2008. doi:10.11606/D.16.2008.tde-03032010-112258. Acesso em: 2017-04-19.
ACERVO, Instituto John Graz.